Presidente da Associação Brasileira de Bartenders, analisa o impacto da nova geração de consumidores no mercado de drinks sem álcool e aponta desafios para a formação de profissionais.
A demanda por bebidas sem álcool cresce de forma consistente no Brasil, impulsionada por mudanças de comportamento dos consumidores e pelo interesse em opções mais saudáveis e funcionais. Dados setoriais apontam que 55,3% da população brasileira não consome álcool, e esse público tem buscado alternativas que ofereçam sabor, sofisticação e experiência semelhante à dos drinques tradicionais. Esse movimento acompanha uma tendência global que valoriza bem-estar e estilo de vida equilibrado, refletida também no aumento do consumo de cervejas sem álcool, que alcançaram mais de 480 milhões de litros comercializados em 2024, crescimento de 24% em relação a 2022.
Apesar do avanço da demanda, a oferta de profissionais capacitados para desenvolver coquetéis não alcoólicos ainda é limitada no país. Muitos bares tratam esse segmento de maneira secundária, oferecendo opções restritas e pouco elaboradas, muitas vezes com características próximas a sucos ou combinações simples, o que não atende às expectativas de consumidores que buscam experiências diferenciadas.
Segundo Paulo Jacovos, presidente da Associação Brasileira de Bartenders, o perfil de consumo das novas gerações tem impactado diretamente esse cenário. “Hoje as novas gerações de consumidores, chamada de Z, têm costumes totalmente diferentes em seus estilos de vida. No dia a dia eles preferem ser reservados e quando possível nunca sair de seus bunkers, que antigamente chamávamos de quarto, onde tudo pode acontecer em um toque na tela do celular. Na alimentação eles amam junk food e serviços delivery para tudo. Na vida social adoram participar de tribos e, na diversão, o gosto é sempre pelo menos é mais. Então nunca em 40 anos como profissional nesta área eu vi um volume tão grande de consumidores que buscam bebidas com baixo volume alcoólico ou totalmente sem álcool.”
Jacovos ressalta que o maior desafio para atender essa demanda é técnico. “O desafio na formulação de receitas e cocktails para esta nova geração é criar algo que seja atrativo visualmente, interessante em termos de aromas e saboroso ao paladar, sem perder as características de um cocktail alcoólico, buscando manter as três principais atrações aos nossos sentidos: visual, aroma e sabor.”
Ele também chama atenção para a carência de capacitação profissional no setor. “Na questão de capacitação profissional de bartenders está cada dia mais difícil. Porque a nova geração não quer mais sair de casa e este tipo de formação profissional online na área de gastronomia em geral, com a proliferação destes cursos baratos, não forma ninguém de fato. As pessoas são certificadas sem ter a noção de que um cocktail é formado por três pontos básicos: ingrediente principal ou básico, ingrediente reagente e finalmente o modificador. Sem conhecimento destas técnicas, que não são conhecidas e ensinadas pela maioria destes cursos, as bebidas se tornam sem atrativos para este público, que acaba buscando bebidas prontas e totalmente artificiais.”
Eventos de capacitação começam a ganhar espaço no Brasil, com cursos dedicados exclusivamente à coquetelaria zero álcool. Um dos destaques será a realização da 4ª Oficina de Drinks Não Alcoólicos durante a Softdrinks Tech, que reforça a importância do tema para o setor e promove a formação de profissionais especializados. Esse movimento se soma ao crescimento do mercado de produtos específicos para o segmento.
O cenário aponta, portanto, para um mercado em transformação. Se por um lado a escassez de bartenders especializados e a falta de investimento em cardápios atrativos ainda representam obstáculos, por outro, a expansão do consumo e a chegada de novas soluções comerciais oferecem oportunidades relevantes para bares, restaurantes e profissionais que decidirem apostar nesse segmento.
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